“Querido,
Estou sentindo-me culpada.
Não me reconheço mais, embora saiba exatamente no que eu estou me transformando. Não posso discordar do que estão dizendo, que estou mudando, e não posso dizer que estou me metamorfoseando pelo lado bom...
Fiquei tanto tempo tentando me comportar e nunca conseguira nada. Agora que estou praticando um pouco de “maldade”, as coisas começaram a andar... E então cheguei a uma simples conclusão: Uma pessoa comportada, com uma fé e esperança resignada de que vá conseguir alguma coisa, fica lá, estacionada, desenvolvendo sua moral (ou ela pensa assim), esperando por um milagre... Enquanto alguém que toma atitude, racionalizando e vivendo a vida, alcança muito mais do que o primeiro. Consegue realizar o que sempre quis mais do que quando se era esperançoso com sua fé resignada! É este o segredo? Ser simplesmente humana, tentando não reprimir os pecados do corpo e os pensamentos maléficos da alma? Pois fora somente assim que eu conseguira um pouco do que desejava. A fé, a esperança não me trouxera muita coisa. Não havia como ser resignada com isso, não por muito tempo.
E eu que desejava tantas coisas! Uma hora querendo uma coisa, em outra, querendo o dobro... Mas então eu me canso, irritada descarto logo como se não fosse algo que havia há pouco desejado. Os humanos, os homens que me atraem tanto quanto os atraio... Isso é fascinante, envolvendo-os em minha teia sedutora e louca! — Há tantos peixes neste rio... de espécies diferentes, de raças diferentes!... Há tanto à que se experimentar... E eu quero provar de todos! Ou somente um... Talvez nenhum! Desejo tantas coisas ao mesmo tempo e também às descarto rapidamente!
Depende do meu humor e disposição!
Farei o que estiver ao meu alcance para satisfazer cada um de meus desejos mais íntimos e secretos, pois após o primeiro toque de meus lábios ao encontro de outro, desde então, ao abrir A Caixa, o pecado se espalhou em todo meu ser. Embora, ao invés de manter minha esperança, foi dissolvendo-a lentamente.
Atrevo-me ainda sentir-me culpada quando gosto do pecado — quando já fora condenada pelos deuses? Tarde demais, a petulância já faz parte de mim,...
de sua Pandora.”